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Mai10
Acorda cedo a gaivota
Armando Isaac
© Armando Isaac
Acorda cedo a gaivota, vagueando tonta pela areia
hábito que antecede a paixão, presa ainda nessa teia
Levanta voo, paira por momentos em procura errante
que lhe permita ainda e sempre ver a casa amante
À luz da saudade nada poderá violar a eterna paixão
ainda ela perdurará, mesmo que se dê a final implosão
A gaivota sabe da insensatez na miragem da casa, inevitável
mas o doce amargo do sonho está na ausência do realizável
Assim, nessa abstracção indecisa se vai terminando a existência
se vai hipotecando irresponsavelmente uma futura vivência
E as horas destas noites nem dormidas nem amadas
deserto percorrido com miragens, sem oásis, são pesadas
Por isso o vagabundear nas manhãs orvalhadas é habitual
a imagem do passado, na casa, mais repetitivo, trivial
*Poema do livro Casa da Praia - Fernando Antunes