Deixa-me avistar mais além mesmo que os olhos apenas vejam o chão
ficar com as ruas e as casas da cidade, ocupar a minha solidão
Deixa-me lobrigar horizontes ver oceanos e as estrelas do céu
ficar nesse vazio humano, ouvindo o silêncio, ser eu
Deixa-me o vento, todas as nuvens do céu que o mundo tem
ficar com os pingos de chuva que não são de ninguém
Deixa-me ver, mesmo sem olhar, os contornos da multidão
ficar com todas as mulheres que passam, doce ilusão
Deixa-me caminhar descalço pela areia da praia deserta
ficar absorto pelo que vejo, a mente desperta
Deixa-me esta ânsia esfomeada pela luz interior, sonho sem sono
vá lá, deixa-me ficar, do mundo, com todas as coisas sem dono
© Foto: Armando Isaac; Poema: Fernando Antunes