PICARIA À VARA LARGA - jogos de virilidade (1)
A Picaria é a expressão lúdica dum tempo de faina indissociável de todo e qualquer tempo: releva de códigos de honra e de valores associados à exibição e reprodução da masculinidade. É o perigo que confere qualidade a um entendimento muito próprio de “homem”. Seguramente, ser conhecido como um valente e temerário é uma das considerações que envolve o ser na sua plenitude. A tradição ainda proporciona situações limite e excitação socializante.
A campinagem inscreve-se e resiste muito para além do tempo de trabalho, radicando em exclusivo numa filosofia de vida que só os corajosos podem interpretar, quer a solo quer em grupo, infundindo um espirito de solidariedade seja entre campinos seja entre estes e os animais indispensáveis à condução dos touros: cavalos e cabrestros. Os animais domesticados não são unicamente instrumentos mas também fontes de confiança e de conforto.
Por força do estatuto que o contacto com o perigo impõe por si, personalizado no touro bravo, a “vida brava” tem inspirado a legitimação das existências, desafiando a comprovação do carácter. É uma demanda revestida da mais solene ombridade onde nada mais existe do que o homem de corpo inteiro: os seus medos e a sua coragem. É por respeito que os “marialvas” discutem a galhardia no campo do campino, com o touro como mediador. A picaria é um jogo de transcendência em que se pode perder muito, a vida inclusive, e ganhar somente o reconhecimento e o respeito que a condição humana sempre exige.
FOTOS: © Armando Isaac
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