18
Fev10
Há um lugar
Armando Isaac
Há um lugar
que permanece inalterado desde que o conheço
lugar que está no meu coração desde o berço
Lugar da minha infância, onde aprendi a mergulhar com o silêncio na mão
onde os pescadores sempre regressam e os barcos baloiçam na solidão
Lugar onde a imensa nobreza dos homens ganha dimensão
Neptunos de um mar menor na labuta do ganha-pão
Lugar onde volto sempre que posso, e me sinto de novo menino
sentado nas tábuas desse cais sorvendo o ar marinho
Lugar onde ao sol poente nos esquecemos do tempo, sentimos o cheiro a maresia
onde nos chega a paz, que merecemos, e a brisa tem o aroma da melancolia
Há um lugar
onde no cais os barcos descansam, os homens sonham olhando o entardecer
onde o rio se torna laranja e o dia, sorrindo, diz que vai morrer
© Foto: Armando Isaac; Poema: Fernando Antunes