Escuta
escuta o ténue barulho das luzes
arrogante o vermelho, no seu poder efémero
gentil o verde dando passagem
cuidadoso o amarelo, seus avisos silenciosos
Escuta
escuta o barulho surdo de motores e buzinas
o chiar dos travões arranhando o asfalto
o arranque dos carros em sobressalto
o passo apressado dos peões
Escuta
escuta as palavras gritadas ou apenas ciciadas
que se escapam das casas pelas frinchas das janelas
pelos interstícios das portadas, o ranger da porta a abrir
o som dos tacões altos de mulher que vai sair
Escuta
escuta as conversas no café da esquina
a colher a tilintar na chávena, a água a cair no copo
o isqueiro que acende o cigarro, o jornal a ser aberto
o beijo à chegada, discreto
Sou estátua de silêncio à chuva, na praça parado
onde tudo se passa
Onde tu não passas
(Poema inédito da autoria de Fernando Antunes, economista por formação e poeta por paixão, inspirado pela minha foto)